Crime e Castigo da Arte
A arte moderna(ça) devia ser torturada. Devia ser enclausurada em
Guantanamo e obrigada a falar.
O seu crime? Ocultar a verdadeira arte durante
décadas e promover os mais altos valores do mercado das batatas.
Vejamos:
. Arte conceptual? – culpada de distrair as atenções, disseminando
banalidades.
. Arte abstracta geométrica? – culpada de atrair as atenções, sendo banal.
. Arte pop? – culpada de, simplesmente, ser a banalidade em pessoa e de focar
as pessoas em objectos artisticamente nulos.
Eu sei o que estão a pensar:
- “Sim, mas quem torturávamos primeiro? E com
que método?”
Ora, eu tenho a solução, um método infalível, que leva o torturado a falar a verdade
em 100% dos casos, e que não foi copiado de nenhuma prisão de nenhum país do 3º
mundo (ou da Europa…), tendo sido antes aprendido nessa escola do crime chamada
banda desenhada: mais especificamente em “Humpa-pá”!
E que método é esse?
Simples: descalçar o torturado e fazer-lhe cócegas com uma pena.
De facto, para quê arriscar o afogamento do criminoso? Ou maltratá-lo fisicamente? Ou
colocar música em altos berros durante horas, afectando para sempre a sua audição?
Meus amigos, isto é senso comum!
E é o que, muito naturalmente, liga
umbilicalmente a arte moderna(ça) ao terrorismo internacional: meus caros Snowden/ NSA/ FBI/ Interpol, “don´t look no further, my friends !”
Bom, mas isto são peanuts, comparados com o que a verdadeira arte moderna
faz e fez durante mais de um século e meio, desde pelo menos o Impressionismo:
ela tem tentado alcançar, entre outras coisas, a definição estética última do
ser humano.
Neste assunto tão essencial, a escultura tem também feito o seu TPC, nomeadamente
com Alberto Giacometti a ser um ponta de lança à antiga, estilo Eusébio, mas
sem descurar a discreta genialidade de um Coluna ou o mais recente Cristiano
Ronaldo, com as suas arrancadas fulgurantes rumo à baliza e ao golo.
Também
Anselm Kiefer, Louise Bourgeois, Christian Boltansky e Germaine Richier têm
marcado muitos golos à apatia reinante, através de arte excepcionalmente
expressiva, sem contudo abdicar do seu aspecto mais figurativo.
O que está em jogo é uma representação humana em arte que, após o fim da
poesia decretado por muitos tendo em conta o facto em si mesmo chamado
Holocausto, teria de ser algo muito diferente da figura tradicionalista
apresentada pelo Renascimento e suas bases anteriores na arte europeia.
. O que é a pintura da nossa Vieira da Silva senão a eterna busca de si
próprio do homem? Da sua eterna finitude e labirinto da vida e do caótico
presente?
. O que é “O grito” de Edward Munch, senão a estrutura expressionista do
medo, que tem inspirado tantas e tantas cópias menores?
. O que é a experiência Basquiat senão a fugaz tentativa de apreensão das
ansiedades típicas do homo sapiens?
Em resumo: um bom resumo da arte moderna é este – a captação da
profundidade da alma.
Se essa alma é humana ou não, no momento em que finalmente o soubermos, já
não estaremos vivos para o contar a ninguém…
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