Vida sem vida palavra de artista
Algo
se passa.
Algo
está ou corre mal.
. Temos
um país, com fronteiras definidas há muito, muito tempo, contado em séculos (e
não em décadas, para vergonha dos norte- americanos).
. Temos
alguns dos maiores talentos mundiais em diversas áreas, seja no futebol, nas
artes plásticas, na arquitectura, na literatura e muitos etceteras.
. Temos
uma carta de alforria do direito à indignação que nos deu um presidente – Mário
Soares.
. Temos
agora um outro presidente que é um como nós, e não apenas um rei- no- seu-
castelo.
. Temos
montanha, prado, rio e mar.
. Temos
boas gentes, bastante - ou pouco - crentes.
. Temos
vontade, à vontade, talento a rodos e genialidade q.b.
. Temos
agora redes sociais para dar e vender, do minimal Twitter ao popular Facebook,
ao visual Pinterest, ao blogger Tumblr, ao imediato Instagram, até ao sério
LinkedIn.
E,
no entanto, algo há na educação de toda uma – ou várias - gerações, que está ao arrepio da democracia, do debate
público, da troca de ideias.
Que
nos tornou a quase todos dóceis carneirinhos, que não contestam os poderes
instituídos – desde a escola primária à Universidade, a regra parece ser a do
respeitinho à hierarquia, à semelhança talvez da instituição militar.
As
únicas pessoas que fogem a essa regra são os loucos. (Ah, sã loucura !)
E
nós, artistas visuais, temos – ou deveríamos ter – uma parcela maior de saudável
rebeldia que nos levasse a contestar teorias, impor novos valores, criticar
classicismos, vivenciar experiências e aplicar mudanças, falar abertamente de uma estrutura que nos
oprime, seja ela social, política ou económica.
Mas
não. Não
é isso o que sucede actualmente.
O
Facebook, de longe a rede social mais útil e popular – no mundo e também em
Portugal – é um mar de perfis na média e páginas de partilha de vídeos de gatinhos e cãezinhos, grupos plenos de marasmo intelectual, um imenso oceano de indiferença e viveiro
inesgotável de likes tão neutrais como um beijo nas nuvens:
- Gostamos,
mas nem por isso.
- Não
gostamos, mas não demais.
O
mundo é uma fonte de informação contínua, que não aquece nem arrefece:
- Aconteceu
? Óptimo, já devia ter acontecido há mais tempo.
- Não
aconteceu ? Não faz mal, provavelmente nem fazia falta.
E
assim levamos as nossa existência, cheia de silêncios impuros e de sábias
palavras do senso comum, estilo Coelho ou Osho:
- Ele disse isso ? Tenho de citar.
- Ele não disse isso ? Mas podia ter dito - tenho de postar.
Não
precisamos de mais – isso, apenas isso, basta.
E assim
nos tornamos apenasmente rosto de gente.
Para
sempre.
(é o que dá um país deixar-se existir pelo Tempo presente)
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