O Embuste do Cifrão



Andy Warhol é o Pai de praticamente todos os embustes artísticos.

Um falso papa, um falso artista, na sua própria definição: “uma máquina”.

A sua nefasta influência espalhou-se como um cancro agressivo, e a fasquia passou a estar no cifrão, não na tela.

Muitos dos artistas contemporâneos aceitam-na e abraçam-na sem questionar as suas verdadeiras motivações, e replicam a estrutura da sua Factory, empregando dezenas de artesãos, que asseguram lucros astronómicos.

Desde o Ocidente à China, o padrão de funcionamento - que não o de qualidade - é o mesmo, e a globalização fez o resto que ainda faltava.

Na arte, como em tudo, está na moda ser rico.

E isso paga-se.


Desde a ideia de banalização da arte (ou seja, da sua falsa democratização, atribuindo a toda a gente talento natural para fazê-la com sabedoria, sentido estético e histórico), passando pela deturpação dos ready- made de um Duchamp que nunca se deu ao trabalho de desmistificar o que quer que fosse, até à inspiração de todos os Big- Brothers, de todas as revistas cor- de- rosa possíveis e imaginárias (os tais 15 minutos de fama para todo o gato- pingado deste mundo e arredores...), o trabalho de Warhol é a tentativa de transformar a realidade mais chã e desinteressante em coisa que valha a pena comprar.

Além da fraca produção artística de Warhol, também a forma como subiu no mundo da arte nova- iorquino não está isento de dúbios contactos do mundo Gay que ele tão bem conhecia, algo que tem feito escola no mundo da arte, dos mass media e da política.

Não sou homofóbico. No entanto, se alguém é gay porque não o assume ? Se não o faz é porque certamente essa ambiguidade lhe é favorável, na sua vida privada e sobretudo também profissional. Se eu fosse, teria orgulho nisso e decerto não o esconderia. E, num mundo onde isso deixou de ser um estigma irrecuperável, a sua ocultação revela-se cada vez mais incompreensível.


Se Warhol é um profeta da arte, é- o apenas da sua comercialização e inflacção, pois que transformou a Galeria de arte num gigantesco supermercado de coisa nenhuma.

Um elogio eu lhe faço: Warhol fez com que o design gráfico entrasse na arte pela porta grande, não pela porta do cavalo, como se costuma dizer. E contactou e produziu alguns artistas de qualidade, desde os Velvet Underground a Jean- Michel Basquiat.

Mas francamente: ele contactou com tanta gente de qualidade, que o contrário, isso sim, era impossível.


Quanto às Artes Visuais, essa é outra história.

A arte tem de provir da Necessidade Interior - ensinamento de Wassily Kandinsky (criador oficial da Arte Abstracta ocidental); ora, este ensinamento está totalmente em contradição com a mensagem publicitária e panfletária de um Warhol obcecado por fama e dinheiro.


Muitos talvez desconheçam este facto: Warhol queria começar a pintar mas não sabia bem o quê; então um amigo sugeriu-lhe pintar aquilo de que ele gostava mais. E assim surgiram as tristemente célebres pinturas de notas de dólares verdes…

Mais vazio, mais indiferente, mais ausente, mais oco, de facto, não há.

Aquilo que em Duchamp é mental, em Warhol é ostentação; aquilo que em Kandinsky é interior, em Warhol é exteriorizável; aquilo que em Bacon é contenção, em Warhol é espectáculo, vaidade pura.


Não existe nada para além das serigrafias – repetição, seja as de Jacqueline Kennedy, seja as de Marilyn Monroe ou de Elvis Presley. Os críticos bem tentam envenenar o espírito das multidões dizendo-lhes que a repetição de impressões ligeiramente diferentes é um estado artístico pleno de sabedoria, mas os artistas autênticos sabem bem que tudo isto é mau teatro e jogo de bolsa; desde o mundo da arte até Wall Street é apenas um passo...

Um passo que muitos galeristas deram e dão e darão de bom grado, a bem do seu bem estar financeiro.


Existe um homem que produziu teorias desconcertantes, um verdadeiro intelectual desta nova era dos Mass Media.

Esse homem chamava-se Marshall McLuhan e, apesar de pouco citado, a sua excepcionalmente lúcida análise é- nos essencial para compreendermos, tanto o poder dos meios de comunicação social nas sociedades burguesas ocidentais (sociedades de serviços e de novas tecnologias, pós Revolução Industrial), como a perniciosa contribuição de Warhol para o mundo da arte da segunda metade do Século XX.

Questionar os falsos mitos do Pós- Guerra significa mantermos a perspectiva histórica e a sensatez.

E McLuhan é muito mais sensato do que Warhol foi.


Sensato e honesto, intelectualmente.


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