A Geração Cobra
Há um jogo bastante conhecido que coloca
uma espécie de cobra a andar à roda num quadrado, e ela vai crescendo,
crescendo, até ao momento em que, inevitavelmente, tem de morder a sua própria
cauda. E aí, o jogo acaba! Ou seja, a única coisa que o jogador pode fazer é
tentar evitar algo que vai acontecer, mais
cedo ou mais tarde!
A coisa é bem simples de entender. A
sociedade, como sistema de vasos comunicantes que é, permite estas coisas:
prever os comportamentos humanos, mas só após a sua aparentemente muito
científica e racional compartimentação social.
Dividir para reinar? Podem crer!
Lá nas sociologias, a malta tropeçava de
vez em quando numa disciplina muito catita e também muito tímida, que nem
direito tinha à sua própria cadeira. Ter assento na clique- claque do
Reitor? Nem pensar nisso!
A coisa chamava-se: análise de conteúdo;
analisavam-se os meios de comunicação de massas - ou seja, o verdadeiro
primeiro poder em todo o Ocidente -, as suas mensagens ocultas, etc e tal, e
os “professores” fingiam que isso nem existia lá no dicionário deles…
Bom, mas vamos usar então o mesmo género
de pensamento que destrói a sociedade, para voltar a reerguê-la das ruínas a
que a classe política a conduziu, incluindo leis conscientemente
incompreensíveis e anti- genéricas/ abstractas, bem como um sistema educativo
consistentemente caótico.
Ora comecemos exactamente por aqui.
PONTO UM – Educação:
Professores descontentes, sindicatos que
pensam apenas em aumentos salariais, negociações anuais que nunca chegam a bom
porto, e um pensamento estrutural que inclui a seguinte ofensiva aos alunos-
cobaias:
. Memorização assassina que leva directa
ou indirectamente a depressões e/ ou suicídios;
. Falta de emoção;
. Crítica “aguda” à criatividade dos
alunos;
. Embrutecimento puro;
. Quantificação idiota e sem sentido;
. Anomia e um cansaço mental que se quer
contínuo;
. E, finalmente, um medo da “autoridade
oficial” incutido praticamente desde a nascença.
PONTO DOIS. Indústria do entretenimento:
Enquanto os meios audiovisuais:
. Publicidade;
. Cinema;
. Televisão;
, aumentaram freneticamente a velocidade
da imagem (em poucas décadas, de um novo plano em cada 24 segundos, a um plano
em menos de 1 segundo e meio na actualidade!!), já a indústria dos jogos
(Playstations, X- Boxes, etc e tal) “une-se” à indústria das telecomunicações
(telemóveis sempre a tocar, por qualquer razão), para quê? - obviamente, para
provocar um empobrecimento intelectual generalizado, e sobretudo uma falta de
capacidade de concentração que é unânime nas novas gerações. A desorganização
é apenas aparente: a ofensiva é real e está aparentemente prevista e
implementada há muito, muito tempo. E isto, só não vê quem não quer, de facto,
ver.
PONTO TRÊS. Sociedade Capitalista:
O imediatismo, o individualismo/ egoísmo,
a superficialidade, o culto da banalidade, a atitude de consumismo que cataloga
os idosos de incapazes e dispensáveis cotas, gozados por todas as
irresponsáveis agências de publicidade que se prezem, são elementos comuns às
sociedades democráticas contemporâneas, vulgo: circo mediático...
Mas voltemos agora ao tal jogo de que vos
falava no início; há uma enorme e escondida sabedoria nesse jogo da cobra, cuja
longa cauda vai crescendo: ao querer produzir gerações de inúteis - mas
inúteis cada vez mais diplomados -, este sistema pré- concebido de
catalogação e divisão social produziu também o seu próprio antídoto: a cobra
afinal era venenosa, e mais tarde ou mais cedo vai morder a sua própria cauda,
provocando uma morte tão escusada quanto previsível.
Ao tratar com tanta indiferença milhares
de jovens, estes criaram em si mesmos defesas quase orgânicas a um sistema
político que faz juras de amor a gestores incompetentes, banqueiros ávidos e
interesses inconfessáveis.
Ou seja, ao produzir a muito aclamada (e
igualmente muito vazia) GERAÇÃO INTERNET - e privando-a, ao mesmo tempo, de
uma identidade interior forte, sensível e personalizada - é esse mesmo marasmo
e é esse mesmo desinteresse que irá, a muito curto prazo, mudar estruturalmente
os paradigmas mentais que (ainda) permitem a vida em sociedade, uma vez que é
hoje indesmentível o desprezo destes jovens pela estrutura política, bem como a
procura activa de um novo modelo de representação das forças vivas da
sociedade.
Com um desemprego inacreditável - e
reconhecidamente a aumentar descontroladamente todos os anos -, personalidades
pseudo- credíveis em queda de audiências, vários países afundados em dívidas
- dívidas essas que o próprio sistema bancário incutiu nas famílias por meio de
campanhas publicitárias terroristas-, e um panorama demográfico explosivo, a
Europa - esse eterno campo de batalha do mundo e esse eterno tabuleiro de
xadrez das (realmente) grandes potências - será, uma vez mais, o eixo
fundamental e o caldo cultural da mudança - mudança política, económica e
social da realidade global dos nossos dias.
Das duas, uma: ou uma nova Gripe das Aves
ou Gripe dos mosquitos, castores ou das focas aparece rapidamente e este factor
demográfico fica logo resolvido para os donos do mundo, ou então a coisa será
muito mais caótica do que alguns génios da banalidade previram.
E aí, novos e verdadeiros líderes vão
aparecer. E ai de quem lhes fizer frente... Esses génios da banalidade sabem
bem o que aí vem: mais Nacionalismos, provocados pelo atirar para debaixo
do tapete de temas fracturantes e no entanto sem debate público, para que a
inflacção se mantenha a níveis "correctos" e muito
"racionais", para que os mesmos continuem com os mesmos privilégios e
também para que o status quo de Bruxelas não se mexa nem um milímetro.
Esta gente não entendeu de facto as lições
da História, nem o porquê do aparecimento de regimes totalitários que quase
aniquilaram por completo a velhinha Europa.
Eu não sei a vossa opinião, mas eu cá -
talvez por me chamar “Capelo” - adoro este tipo de cobras e este tipo de
circos! Venham mais cinco!!
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