A memória da alma bruta



Quando Jean Dubuffet declarou que ele próprio era o único pintor do mundo a pintar como todo o mundo, os críticos exultaram ironicamente e escarneceram da sua pintura “infantil”, considerando-a, uma vez mais, inútil para a sociedade e totalmente distante da arte de qualidade de que as galerias precisavam.

No entanto, como todos os artistas de profundidade autêntica do Século XX, a obra deste criador torrencial tornou-se uma lição a médio prazo.

A sua Arte Bruta é um pedaço de lama atirada à cara do comércio e da exteriorização mediática fácil que se instalou de armas e bagagens no mundo das galerias de arte contemporânea.

De facto, não só Dubuffet defende valores essenciais de humanismo óbvio mas totalmente esquecido (a valorização da arte das crianças e dos loucos como algo de extremamente pedagógico a nível social e cultural), como também se tornou a cartilha de vários movimentos artísticos após a sua criação.

A arte pobre, a arte naif, e até o expressionismo abstracto devem algo do seu espírito revolucionário e inovador ao exemplo deste artista.

Jean Dubuffet não gostava das palavras. Não gostava da cultura com C grande, praticado pelas elites burguesas, elites essas que consideravam uns, loucos (e os metiam em asilos, esses sim, ambientes de loucura verdadeira), e endeusava a arrepiante normalidade dos restantes, bem falantes e atentos à vertente monetária, e os transformava em artistas endinheirados, visionários da sociedade de consumo.

Pessoas como Andy Warhol só podiam existir neste contexto, de facto.

Fazem falta Homens como Dubuffet, como Rimbaud, como Artaud, criadores da alma e não somente fazedores de bens materiais. Agitadores de bens bem mais profundos e autênticos, que pertencem a toda a comunidade, e a unem, naquilo que o ser humano tem de aparentemente múltiplo e divergente.


Isto, sim, é Poesia Visual…

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